A arca. O cheiro. A alfazema velha e humidade. Os
cobertores que arranham a pele. Que mais do que aquecer, pesam. Mantas de papa,
chamavam-lhes. Traçadas já. Carregadas de história e histórias. Memórias de
lençóis de linho, puídos embora. E de colchões de folhelho que sublinhavam com
rangidos o menor movimento. Que marcavam ritmos em noites de lua apetecida.
Apesar das cautelas. Apesar da vergonha. Das rendas das fronhas que marcavam as
faces de flores e cornucópias. E quadrados pequeninos. Lembranças das crianças
que esqueciam os lençóis e se deitavam no meio dos cobertores, porque gostavam
das cocegas que os faziam rir e esquecer o frio. Com as cabeças tapadas para as
orelhas não gelarem e não deixarem de sentir a ponta do nariz. Com as mãos entre
as pernas por causa das frieiras. E que assim, encolhidos a brincarem às tocas,
caíam no sono. Pegavam no sonho. A arca tem cheiros. A arca tem sonhos.
...cobertores de papa, colchões de folhelho (em Angola dizíamos de palha - dava um trabalhão fazer as camas), a minha infância também passou por aí e pelos sonhos, durante o cacimbo...
ResponderEliminar