O Pai Natal existe. As crianças é que sabem. Existe
e toma muitos nomes e muitas formas consoante as regiões e crenças. Tem o poder
da ubiquidade, de entrar nos nossos sonhos, de voar. Entre muitos outros,
claro. Age, normalmente por interposta pessoa. Quase sempre pais, avós e
familiares e amigos, no caso dos cristãos. Mas pode ser de muitas outras formas
e em muitas outras datas, para gente de outras religiões. Até para os ateus.
Por isso um dos seus nomes é, também, Generosidade. Quando as pessoas estão a
dar um presente julgam que são elas que o estão a oferecer mas, na realidade, é
o Pai Natal que incorporou nelas. Por isso ele consegue chegar a tanto lado ao
mesmo tempo. No entanto, há algumas pessoas de quem se ocupa ele mesmo.
Crianças abandonadas pela sorte. Pessoas sós, sem família nem amigos.
Mariazinha é uma delas. Vive sozinha e não tem ninguém. Com pouco mais de
quarenta anos, ainda fresca de carnes embora não pareça, escondidas que estão
por baixo de roupas disformes. O rosto parece também menos jovem por causa dos
óculos de aros muito grossos e lentes espessas. Tenta passar despercebida e
consegue-o a maior parte das vezes. Vive no eterno dilema de querer alguém e
ter medo de alguém a querer. De lhe doer a solidão, mas não se sentir bem com
companhia. De ansiar por um afago, mas toda se encolher de angústia com
qualquer maior proximidade física. Compensa-se de outras maneiras. Lê muito e
vive através dos livros. Come bem, doces sobretudo, e a sua casa está sempre demasiado
aquecida. Naquela noite de Natal, quando o Pai Natal entrou com o presente, um
livro de poemas por que ela ansiava, encontrou-a adormecida. Nada de anormal
para ele, claro. Era a sua última entrega dessa noite e estava já fatigado. Mas
quando se preparava para deixar a prenda surpreendeu-se com o sonho de
Mariazinha. Porque aquela triste mulher solitária sonhava com ele. E não era um
sonho normal. Mais exactamente, Mariazinha sonhava que estava a fazer amor com
o Pai Natal. Ele olhou-a então, curioso. Deitada no sofá, vestia apenas uma camisa
de noite transparente que deixava ver, perfeitamente, o corpo esbelto e uns
belíssimos seios. Os mamilos, de tão erectos, pareciam querer furar o tecido
fino que os cobria. A agitação do sonho tinha feito subir a camisa para a cintura,
deixando ver um velo pouco denso e a vulva humedecida. O Pai Natal quedou-se,
estarrecido. Porém nem os deuses são imunes a estas coisas, quanto mais o Pai
Natal. Deu consigo com uma forte erecção. Esqueceu a prenda. Despiu-se e, chegando-se
a Mariazinha, penetrou-a com doçura. Mariazinha despertou, mas julgou que
continuava a sonhar. Fizeram amor todo o resto da noite. Uma e outra vez. De
madrugada o Pai Natal foi-se embora deixando Mariazinha a dormir, agora um sono
sem sonhos. O livro de poemas esquecido no bolso. E nessa manhã o Pai Natal,
apesar do cansaço, chegou a casa com um brilhozinho nos olhos.
...e para o ano, a fazer companhia ao Pai Natal, para além das mães natais, vamos ter o filhinho natal...
ResponderEliminarUm abraço David.(Zaida)