A realidade é uma chatice. É muito mais agradável
viver no mundo dos sonhos. Ou no virtual, para quem tem menos imaginação e
precisa que lhe sirvam fantasias empacotadas. É a Julinha da tabacaria, que é
uma rapariga jeitosa como poucas e que ambicionávamos namorar, que para nós não
passa do sorriso de circunstância e se derrete com o Zeca do restaurante. É
aquele negócio em que julgávamos ir ganhar uma pipa de massa, mas em que,
depois de pagarmos as taxas e impostos, ainda ficamos a arder com umas milenas.
É o curso que nos ia transformar em doutor cheio de estatuto e dinheiro e,
afinal, só serve para trabalharmos no call center pelo ordenado mínimo e a
recibo verde. A realidade é lixada. Troca-nos as voltas constantemente. Às
vezes traz-nos sorte, mas a mais das vezes é uma merda. Trama-nos quando menos
esperamos. Perdemos quando achávamos que tínhamos ganho. Tira-nos das mãos algo
que já considerávamos certo. Ficamos sós quando já pensávamos ter nas mãos um
amor para toda a vida. Ou, pior ainda, esse ser adorado que imaginámos doce,
nos sai mais amargo que um limão. E não adianta tentar trocar-lhe as voltas e
fazer batota, subvertê-la, que isso só é fácil no nosso imaginário, na pantalha
ou no ecrã do computador. Não adianta fingir que não está a chover quando, na
verdade, cai água do céu a potes, que de certeza nos iremos molhar se sairmos à
rua. Podemos é proteger-nos com guarda-chuva e gabardina para minimizar a
molha. Ou, então, esperar que a borrasca passe. A realidade uma chatice, mas é
o que é, e nada mais.
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