O dia era Domingo. Ela chegou com o seu ar gaiato que não revelava os
três filhos pequenos. Chegou sozinha. Momentaneamente abandonado o ar diligente
e atarefado de esposa e mãe. Antes com o ar leve de quem não tem ninguém ao seu
encargo senão ela própria. Pediu sopa, segundo, salada, sobremesa. Para beber,
um copo de sumo de laranjas acabadas de espremer. Sentou-se à mesa com um
suspiro satisfeito. Bebeu um pouco de sumo com ar deliciado e o sol, até aí
encoberto, abriu radioso, como se até ele quisesse tornar aquele instante ainda
mais perfeito. Comeu a sopa. Não deixou que um cabelo encontrado na salada lhe
perturbasse o momento, e após curta reflexão, atirou-o fora, decidida. Comeu a
salada toda mas deixou um pouco de arroz e carne no prato. Acabou o sumo.
Agarrou na colher. Limpou-a com o guardanapo. Comeu o doce. Primeiro em
pequenos pedaços, depois em grandes colheradas. Como se em vez de o saborear
satisfizesse uma fome antiga. A seguir, desfez a pose descontraída, arrumou os
pratos no tabuleiro e levou-o ao balcão. Foi-se embora com um ar esbelto e
desempoeirado a que a ruga entre as sobrancelhas emprestava agora um toque de
pesada seriedade.
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