Os guinchos do porco rasgaram a manhã já o sol ia a
meia altura. A dona da casa benzeu-se e perguntou, para ninguém: que raio é
isto que nunca ouvi um porco guinchar assim a não ser quando lhe espetam a faca
na matança e estes gritos vêm da estrada. Corremos todos às janelas que davam
para a rua esperando ver algum acidente, um porco atropelado ou caído dalguma
camioneta, mas na rua estava o bicho que guinchava, o dono, um lavrador vizinho
da casa que o tentava levar pela corda, e um ajuntamento cada vez maior de
gente que acorria a ver o que se passava. Já uns, mais afoitos, empurravam o
varrasco enquanto outros tiravam a corda das mãos do homem que desesperava
puxando com quanta força tinham, mas o animal não se movia. O lavrador acabou
por fazer sinal para desistirem e, visivelmente comovido, quando os guinchos
diminuíram falou desta maneira: criei este porco desde pequenino e todas as
semanas, desde que o tenho, o levo ao cimo da rua, ao matadouro, para o pesar e
para que, quando chegasse a vez dele, não estranhasse o trajecto; o animal foi
sempre pacificamente comigo e parecia até gostar do passeio, bastava pôr-lhe a
corda ao pescoço que se deixava levar como um cão; hoje, que era a última
viagem, fiz tudo como das outras vezes mas o bicho pôs-se nestes preparos, como
que adivinhando a morte.
Não sei como acabou a história nesse dia, nem que
moral retirar dela. Só sei que tinha uns dez anos quando a ela assisti e nunca a
consegui esquecer.
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