David Teles Ferreira

aqui vou publicando o que vou escrevendo

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Ela



O dia era Domingo. Ela chegou com o seu ar gaiato que não revelava os três filhos pequenos. Chegou sozinha. Momentaneamente abandonado o ar diligente e atarefado de esposa e mãe. Antes com o ar leve de quem não tem ninguém ao seu encargo senão ela própria. Pediu sopa, segundo, salada, sobremesa. Para beber, um copo de sumo de laranjas acabadas de espremer. Sentou-se à mesa com um suspiro satisfeito. Bebeu um pouco de sumo com ar deliciado e o sol, até aí encoberto, abriu radioso, como se até ele quisesse tornar aquele instante ainda mais perfeito. Comeu a sopa. Não deixou que um cabelo encontrado na salada lhe perturbasse o momento, e após curta reflexão, atirou-o fora, decidida. Comeu a salada toda mas deixou um pouco de arroz e carne no prato. Acabou o sumo. Agarrou na colher. Limpou-a com o guardanapo. Comeu o doce. Primeiro em pequenos pedaços, depois em grandes colheradas. Como se em vez de o saborear satisfizesse uma fome antiga. A seguir, desfez a pose descontraída, arrumou os pratos no tabuleiro e levou-o ao balcão. Foi-se embora com um ar esbelto e desempoeirado a que a ruga entre as sobrancelhas emprestava agora um toque de pesada seriedade.

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