David Teles Ferreira

aqui vou publicando o que vou escrevendo

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O Pai Natal existe



O Pai Natal existe. As crianças é que sabem. Existe e toma muitos nomes e muitas formas consoante as regiões e crenças. Tem o poder da ubiquidade, de entrar nos nossos sonhos, de voar. Entre muitos outros, claro. Age, normalmente por interposta pessoa. Quase sempre pais, avós e familiares e amigos, no caso dos cristãos. Mas pode ser de muitas outras formas e em muitas outras datas, para gente de outras religiões. Até para os ateus. Por isso um dos seus nomes é, também, Generosidade. Quando as pessoas estão a dar um presente julgam que são elas que o estão a oferecer mas, na realidade, é o Pai Natal que incorporou nelas. Por isso ele consegue chegar a tanto lado ao mesmo tempo. No entanto, há algumas pessoas de quem se ocupa ele mesmo. Crianças abandonadas pela sorte. Pessoas sós, sem família nem amigos. Mariazinha é uma delas. Vive sozinha e não tem ninguém. Com pouco mais de quarenta anos, ainda fresca de carnes embora não pareça, escondidas que estão por baixo de roupas disformes. O rosto parece também menos jovem por causa dos óculos de aros muito grossos e lentes espessas. Tenta passar despercebida e consegue-o a maior parte das vezes. Vive no eterno dilema de querer alguém e ter medo de alguém a querer. De lhe doer a solidão, mas não se sentir bem com companhia. De ansiar por um afago, mas toda se encolher de angústia com qualquer maior proximidade física. Compensa-se de outras maneiras. Lê muito e vive através dos livros. Come bem, doces sobretudo, e a sua casa está sempre demasiado aquecida. Naquela noite de Natal, quando o Pai Natal entrou com o presente, um livro de poemas por que ela ansiava, encontrou-a adormecida. Nada de anormal para ele, claro. Era a sua última entrega dessa noite e estava já fatigado. Mas quando se preparava para deixar a prenda surpreendeu-se com o sonho de Mariazinha. Porque aquela triste mulher solitária sonhava com ele. E não era um sonho normal. Mais exactamente, Mariazinha sonhava que estava a fazer amor com o Pai Natal. Ele olhou-a então, curioso. Deitada no sofá, vestia apenas uma camisa de noite transparente que deixava ver, perfeitamente, o corpo esbelto e uns belíssimos seios. Os mamilos, de tão erectos, pareciam querer furar o tecido fino que os cobria. A agitação do sonho tinha feito subir a camisa para a cintura, deixando ver um velo pouco denso e a vulva humedecida. O Pai Natal quedou-se, estarrecido. Porém nem os deuses são imunes a estas coisas, quanto mais o Pai Natal. Deu consigo com uma forte erecção. Esqueceu a prenda. Despiu-se e, chegando-se a Mariazinha, penetrou-a com doçura. Mariazinha despertou, mas julgou que continuava a sonhar. Fizeram amor todo o resto da noite. Uma e outra vez. De madrugada o Pai Natal foi-se embora deixando Mariazinha a dormir, agora um sono sem sonhos. O livro de poemas esquecido no bolso. E nessa manhã o Pai Natal, apesar do cansaço, chegou a casa com um brilhozinho nos olhos.

1 comentário:

  1. ...e para o ano, a fazer companhia ao Pai Natal, para além das mães natais, vamos ter o filhinho natal...
    Um abraço David.(Zaida)

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