David Teles Ferreira

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sexta-feira, 13 de março de 2015

Indutor de ilusões

Os governos da maioria dos países do mundo estão a dar ordem para a fabricação e distribuição gratuita de um medicamento denominado genericamente como Indutor de Ilusões. O produto, que será apresentado em comprimidos e xarope, funciona através de um mecanismo que permite que as pessoas que o tomam busquem na memória a sua experiência de vida mais agradável e a vivenciem como se a estivessem a viver efectivamente, enquanto desempenham normalmente as suas funções. Apresentado inicialmente como um supressor de stress, rapidamente se verificaram as suas potencialidades no aumento da felicidade da população em geral, com evidentes vantagens económicas, quer na redução do consumo dos ansiolíticos tradicionais, quer na de muitas outras drogas associadas ao desgaste provocado pela actividade profissional. Trará benefícios evidentes a pessoas com trabalhos desagradáveis e/ ou repetitivos, visto que podem continuar a cumprir as suas tarefas sem o óbice do cansaço ou repulsa, o que provocará aumento de eficácia e produtividade. O seu consumo será igualmente vantajoso em pessoas com vidas monótonas e sem objectivos. Os governos estimam também enormes poupanças, quer materiais, quer de vidas humanas, com a redução de acidentes de trabalho e de viação. Elevam-se, no entanto, muitas vozes discordantes que acusam ser esta uma estratégia de perpetuação no poder através da alienação do povo, que se sentirá artificialmente feliz, mesmo que a realidade seja precisamente o oposto. Ao que os governos contrapõem que se trata apenas de protestos isolados de pessoas que, assim que experimentarem os efeitos benéficos do produto, terminarão espontaneamente os protestos.

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