David Teles Ferreira

aqui vou publicando o que vou escrevendo

sexta-feira, 27 de março de 2015

Luzes

Está meio adormecido. Amodorrado. Cada vez fica mais tempo assim. Chegou cedo. Chega cada vez mais cedo pois nada mais tem para fazer fora dali. Aliás, quase mora ali. Aguarda a hora. Quando ela chega desce as escadas com andar vacilante. Os anos pesam. Ofega um pouco. Aceita a mão que lhe oferece ajuda nos últimos degraus. Agradece com voz trémula e cambaleia até aos panos. Quando chega a sua vez, entra. E quando passa as bambolinas é outro que surge debaixo das luzes. Passo firme. Voz segura, bem colocada e que se projecta longe. Percorre o palco com vigor. Fala energicamente. O acto decorre com intensidade crescente e a derradeira cena é toda dele. Todo ele cresce e vibra. Há quem jure que ele, nessa altura, até emana luz. Depois da última fala mantém a pose em suspenso. Enorme. Lentamente expira o ar que lhe enche os pulmões. Cai o pano.

Sem comentários:

Enviar um comentário