David Teles Ferreira
aqui vou publicando o que vou escrevendo
quinta-feira, 30 de abril de 2015
Os gigantes e os aerogeradores
segunda-feira, 27 de abril de 2015
Investidores precisam-se
Investidores
precisam-se. Que invistam na felicidade própria e na alheia. Que invistam na
igualdade e na fraternidade. Que invistam na liberdade e no amor. Investidores
precisam-se. Que invistam na delicadeza e na bondade. Que invistam no brio e no
rigor. Que invistam na honestidade e na verdade. Investidores precisam-se. Que
invistam na tolerância e na aceitação das diferenças. Que invistam na ternura e
na amizade. Investidores precisam-se. Exigem-se empenho e compromisso.
Garantem-se benefícios imediatos e ganhos muito compensadores para toda vida.
sexta-feira, 24 de abril de 2015
Ninguém é um só
Ninguém é um só. A todos nos aparecem pensamentos
contracorrente. Aposto que mesmo àqueles que dizem só ter certezas. A quem
nunca surgiu um se ou um mas do seu eu mais profundo? Assim de repente. Do nada.
Sem nenhuma razão aparente. Dizemos muitas vezes que esses pensamentos nos vêm
do coração, talvez por não lhes reconhecermos racionalidade. Ou pelo aperto que
nele às vezes causam. Quase sempre. E depois lá fica a cabeça a magicar, emersa
em cogitações e considerações, em intrincadas análises e negociações interiores,
até chegarmos a um entendimento com nós próprios. Será isto a dialética? O que
é não sei. Sei que esses diálogos interiores me enriquecem sempre, por mais
perturbadores que possam ser. Por mais perda de tempo que pareçam quando volto
ao fim aparentemente a pensar o mesmo. A única certeza que tenho é que isso faz
parte da minha condição de ser humano.
segunda-feira, 20 de abril de 2015
O silêncio
Nunca percebi as pessoas que fogem do silêncio. Que
não o suportam. Que não conseguem viver sem ruído produzido por humanos à sua volta.
Que ligam o rádio mesmo que não ouçam nada do que transmite. Para fazer
companhia, dizem. Que levam aparelhagens para a praia em vez de ficar a ouvir a
música das ondas. Ou para a floresta abafar o som do vento nas árvores e o
canto dos pássaros. Gosto muito de música, mas quanto ela é tocada só para
preencher silêncios, é apenas ruído. Nunca percebi as pessoas que preenchem o
silêncio com palavras sem significado, como se ele as incomodasse, como se ele
lhes pesasse intoleravelmente. O silêncio não é forçosamente um vazio. Um
silêncio pode dizer mais que todas as palavras. E uma boa medida do amor, é quanto
os silêncios do outro não nos pesam.
quinta-feira, 16 de abril de 2015
Um ruído na noite
A noite estava cálida e silenciosa. Nem o mar se
ouvia, apesar de estar próximo. De sacada aberta e luz apagada por causa dos
mosquitos ia-me deixando estar, meio a dormitar meio a meditar, recostado no
cadeirão. Um ruído longínquo, no entanto, começou a perturbar o sossego. Uma
espécie de arrastar sincopado que não consegui identificar e se foi
intensificando. Despertei da modorra e apurei o ouvido. Nada mais se ouvia além
daquele zap zap zap. O silêncio é coisa estranha em terra de beira-mar.
Levantei-me e assomei à varanda. Na rua um grupo de umas quatro ou cinco mulheres
corria, uma delas com uma criança nos braços, embrulhada num xaile, em direcção
ao hospital ali ao lado. Era o arrastar das chinelas que provocava o ruído que
ouvira. Iam no mais absoluto silêncio e com um ar de aflição estampado nos
rostos. E foi esse silêncio que, em terra de grito fácil, mais me impressionou.
Nem deram pela minha presença. Nunca soube que tinha a criança para ficarem tão
aflitas, mas devia ser bem grave para irem tão caladas. Fiquei a vê-las afastar
em direcção às urgências e voltei para dentro de coração apertado. Nunca mais
esqueci aquele som.
segunda-feira, 13 de abril de 2015
Quando ela praça
Quando ela passa, a praça parece parar. Tudo
aparenta ficar num estado de suspensão em que apenas ela se move. E como se
move. Entra por um dos cantos e atravessa o largo em diagonal. Sem rebuço mas
sem ostentação, antes de forma bem natural. Sempre no mesmo passo ligeiro, mas
não apressado, e com um sorriso gaiato. O trajo sempre cuidadíssimo e original.
Modelo exclusivo dela própria, aliás. Não é propriamente magra, será mais para
o cheio, mas tem uma elegância e uma graça genuínas. Há coisas que não se
aprendem, há coisas que não se imitam, nascem com a pessoa. Nisso reside a
verdadeira beleza. Ser-se como se é e assim se mostrar. O que na verdade chama a
atenção para ela não é o vestuário, por mais cuidado ou singular, é a sua
genuinidade. Há, de facto, pessoas assim.
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