Varo a bruma dos dias com inquietação. Da névoa surgem
gigantes contra os quais ergo a minha lança de palavras. Dizem-me que são
apenas moinhos, mas eu sei que são gigantes. Enormes colossos. Os outros riem-se
de mim. Chamam-me dom queixote, porque me estou sempre a queixar de tudo,
dizem. Não vês que são aerogeradores? Perguntam galhofeiros. Mas eu sei a
diferença. Ao contrário deles li o Dom Quixote do Cervantes e sei que diz que confundiu
moinhos com gigantes. Mas o que interessa é que lutou pelos seus sonhos. E eu
sei que os aerogeradores estão nos montes e giram as pás conforme o vento. E
que os que gozam comigo também só se deixam ir ao sabor do vento sem
interrogações. Por isso não percebem a minha luta. A minha teimosia. Por que
razão insisto em esgrimir a minha lança. E riem-se alarvemente, quixotes ao
contrário, preferindo ver moinhos onde realmente estão gigantes.
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