Bebo para aquecer. Bebo para esquecer. Dizem que o
álcool não aquece. Mas se não aqueço esqueço, o que vai dar no mesmo. Esqueço o
frio, o do clima e os outros. O frio da solidão, do desamparo, da sujidade, da
decepção, da fome, do medo. O frio do medo então é o pior. Agarra-se aos ossos
e às tripas. Está presente no Verão e no Inverno. De dia e de noite, embora as
noites sejam o pior. Dizem que estou na rua porque bebo. Eu respondo que bebo
porque estou na rua. Tentem dormir na rua sem beber. Para aquecer. Para
esquecer. Eu nunca bebi antes de estar na rua. Agora bebo até ficar entorpecido.
E depois deito-me e durmo. Porque aqueço. Porque esqueço. Aqueço o
esquecimento.
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