David Teles Ferreira

aqui vou publicando o que vou escrevendo

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Crimes e castigos



Há lugares com uma energia estranha. Mesmo eu que não sou dado a misticismos sinto, por vezes, como que uma alteração no ar. Algo que não consigo definir mas que distingo perfeitamente. Um desses sítios é na baixa de Lisboa, junto ao Rossio. Nem sabia como se chamava aquele largo mas desde sempre senti algo peculiar quando lá passava. Há alguns anos, passando à porta da Igreja de S. Domingos, ouvi música e entrei. Um coro cantava. Eram muito belos os cânticos mas o que mais me fascinou foi a estranheza do local de que, confesso, não sabia a história. A igreja tem um certo ar de caverna, com o seu tecto vermelho escuro e as paredes e colunas calcinadas pelo fogo. Os vestígios de um incêndio ocorrido em 1959 foram propositadamente deixados presentes aquando da reconstrução. O todo tem um ar misterioso e opressivo que não pode deixar ninguém indiferente. Quando saí fui ler uma placa ali afixada em frente, para tentar obter alguma informação, e apercebi-me então que estava no local onde se iniciaram os massacres de judeus em 1506 e onde tanta gente foi lançada às chamas. O fogo novamente. Ou antes, cronologicamente na história, a surgir pela primeira vez. Investiguei mais um pouco e foi quando descobri que a Igreja de S. Domingos tinha sido, desde esses terríveis acontecimentos, também destruída duas vezes por terramotos: em 1531, poucos anos mais tarde portanto, e no grande abalo de 1755. E não são os sismos também manifestações do fogo que reside no interior da Terra? Comecei então a interrogar-me se todas estas ocorrências seriam apenas coincidência. Eu não acredito em castigos divinos mas que às vezes parece que os há, lá isso parece.

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