Há lugares com uma energia estranha. Mesmo eu que
não sou dado a misticismos sinto, por vezes, como que uma alteração no ar. Algo
que não consigo definir mas que distingo perfeitamente. Um desses sítios é na
baixa de Lisboa, junto ao Rossio. Nem sabia como se chamava aquele largo mas desde
sempre senti algo peculiar quando lá passava. Há alguns anos, passando à porta
da Igreja de S. Domingos, ouvi música e entrei. Um coro cantava. Eram muito
belos os cânticos mas o que mais me fascinou foi a estranheza do local de que,
confesso, não sabia a história. A igreja tem um certo ar de caverna, com o seu
tecto vermelho escuro e as paredes e colunas calcinadas pelo fogo. Os vestígios
de um incêndio ocorrido em 1959 foram propositadamente deixados presentes
aquando da reconstrução. O todo tem um ar misterioso e opressivo que não pode deixar
ninguém indiferente. Quando saí fui ler uma placa ali afixada em frente, para
tentar obter alguma informação, e apercebi-me então que estava no local onde se
iniciaram os massacres de judeus em 1506 e onde tanta gente foi lançada às
chamas. O fogo novamente. Ou antes, cronologicamente na história, a surgir pela
primeira vez. Investiguei mais um pouco e foi quando descobri que a Igreja de
S. Domingos tinha sido, desde esses terríveis acontecimentos, também destruída duas
vezes por terramotos: em 1531, poucos anos mais tarde portanto, e no grande abalo
de 1755. E não são os sismos também manifestações do fogo que reside no
interior da Terra? Comecei então a interrogar-me se todas estas ocorrências
seriam apenas coincidência. Eu não acredito em castigos divinos mas que às
vezes parece que os há, lá isso parece.
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