Eram todos muito jovens, recém-chegados à idade
adulta. Vinham dos mais diversos pontos do país. Tinham-se conhecido, por acaso,
naquela aldeia à beira-mar onde tinham ido veranear, por frequentar a mesma
“tasca”. Uma empatia, que não sabiam explicar, os tinha unido quase desde o
primeiro dia e autodenominavam-se, orgulhosamente, “brigada do desassossego”.
Talvez, também, por uma certa antítese, que não antipatia, por outro grupo de
frequentadores mais antigos mas nem por isso muito mais velhos. Passavam os
serões em animados duelos de cantigas com o outro grupo, numa rivalidade sem
acrimónias e em que a vitória nunca importava. A “tasca” tinha música ao vivo
desde que os clientes cantassem. Só se juntavam à noite, no resto do tempo cada
um fazia a sua vida. Com o aproximar do fim das férias chegou a véspera do dia
em que a maior parte regressaria às respectivas terras. Resolveram, portanto,
juntar-se antes de ir para a “tasca” numa sardinhada acompanhada de gaspacho. Reuniram-se
no parque de campismo onde a maior parte estava alojada e começaram os
preparativos. A parte das sardinhas foi fácil. A logística do gaspacho foi mais
difícil mas foi sendo resolvida com desembaraço. Um alguidar de plástico foi a
taça, um frasco de compota fez de pilão para moer o tomate com o sal e o alho,
o pepino e o pão partidos a preceito. Quando foi para juntar o azeite é que
foram elas, não havia. Alguém se lembrou então de uma solução. Pegaram num copo
e foram pelas tendas próximas pedir um pequeno gole de azeite a cada vizinho. Claro
que a segunda pessoa a quem pediram lhes quis logo emprestar a garrafa para que
se servissem do que quisessem, mas recusaram delicadamente e explicaram que só
queriam mesmo um bocadinho, para todos pudessem dar. Assistiu-se então a um
comovente momento de partilha em que toda a vizinhança participou oferecendo um
pouco do seu azeite. Quando chegavam junto das tendas já estava alguém preparado,
de garrafa na mão, para fazer a oferta. Chamavam-nos daqui e dali. E o copo
acabou por ser pequeno. É tão bonita a partilha quando é feita com o coração.
Ninguém ficou mais pobre, mas todos ficaram mais ricos.
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