Não tenho a angústia da página em branco. Causa-me maior
ansiedade uma página demasiado cheia. Uma folha vazia é sempre um novo começo
ou espaço para prosseguir. Tudo pode acontecer. Até nada, como diz o outro.
Perante uma página limpa posso soltar a imaginação. Como quem solta um cachorro
num parque vazio, sem medo de o perder no meio da confusão. Numa página repleta
há pouco espaço para criar. Está já cheia de pensamentos usados e rasuras. De
memórias. É boa para guardar e passar à próxima. Posso lá voltar sempre que
entender, o que é bom, mas preciso do espaço aberto de uma folha desabitada
para poder continuar. Se não, desperdiço demasiado tempo a remoer ideias ou
acabo a usar os espaços disponíveis desordenadamente com grandes probabilidades
de me perder. Uma página em branco é como uma praia deserta. Posso ficar lá só
parado a apanhar sol. Posso convidar amigos ou desconhecidos para a mim se
juntarem ou esperar que eles apareçam. Posso deambular por ela deixando na
areia a marca dos meus passos. Ou posso de lá partir e navegar, navegar...
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