Um homem cai no chão e chora. Não chora por cair no
chão. Deixa-se cair no chão para chorar. Chora convulsivamente. As lágrimas
jorram como rios e todo ele estremece com os soluços. Que aflição sentirá para
chorar assim? Que mágoa? Quem passa tanto dele se condói como o despreza. Quase
todos se desviam e evitam olhá-lo. Outros ficam a olhar de longe. Há quem passe
e sinta inveja. Não do sofrimento que sente mas da capacidade de se abandonar
assim ao choro. De chorar assim tão avassaladoramente. De lavar assim a sua
dor. Também eles têm desgostos e dores que desejariam extravasar e não
conseguem. Por isso seguem o seu caminho e o apostrofam. Outros troçam dele.
Vejam lá um homem a chorar assim. Um homem não chora. Mas, bem lá no fundo
deles próprios, não acreditam no que dizem e gostariam de conseguir fazer o
mesmo que ele. Outros comovem-se com o seu choro e querem ajudá-lo. Mas
entendem que o homem não quer solidariedade. Apenas quer que o deixem chorar.
Que está tão centrado no que sente que nem se apercebe de nada do que o rodeia.
Que, seja lá por que razão que só ele conhece, sentiu vontade de chorar. Uma
vontade imperiosa de chorar. E, sem resistir, como deviam fazer todos os
homens, chorou.
O choro do homem. A libertação mais profunda, Também a mim me disseram "que um homem não chora", nunca cumpri, Só não chorei perante os tiranos,
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