David Teles Ferreira

aqui vou publicando o que vou escrevendo

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Um homem chora



Um homem cai no chão e chora. Não chora por cair no chão. Deixa-se cair no chão para chorar. Chora convulsivamente. As lágrimas jorram como rios e todo ele estremece com os soluços. Que aflição sentirá para chorar assim? Que mágoa? Quem passa tanto dele se condói como o despreza. Quase todos se desviam e evitam olhá-lo. Outros ficam a olhar de longe. Há quem passe e sinta inveja. Não do sofrimento que sente mas da capacidade de se abandonar assim ao choro. De chorar assim tão avassaladoramente. De lavar assim a sua dor. Também eles têm desgostos e dores que desejariam extravasar e não conseguem. Por isso seguem o seu caminho e o apostrofam. Outros troçam dele. Vejam lá um homem a chorar assim. Um homem não chora. Mas, bem lá no fundo deles próprios, não acreditam no que dizem e gostariam de conseguir fazer o mesmo que ele. Outros comovem-se com o seu choro e querem ajudá-lo. Mas entendem que o homem não quer solidariedade. Apenas quer que o deixem chorar. Que está tão centrado no que sente que nem se apercebe de nada do que o rodeia. Que, seja lá por que razão que só ele conhece, sentiu vontade de chorar. Uma vontade imperiosa de chorar. E, sem resistir, como deviam fazer todos os homens, chorou.

1 comentário:

  1. O choro do homem. A libertação mais profunda, Também a mim me disseram "que um homem não chora", nunca cumpri, Só não chorei perante os tiranos,

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