Não tinha medo da morte. Porém sempre acreditou que
ia morrer cedo. Desde criança. Por isso nunca fez nada que demorasse tempo.
Nunca leu um romance. Só lia poemas ou contos curtos. Só estudou o estritamente
obrigatório na escola. Depois foi aprendendo coisas avulsas, ao sabor das
necessidades ou acasos. Nunca cultivou amizades. Muito menos amores. Jamais se
empenhou numa causa. Nunca se permitiu sonhar. Apenas consentiu a si próprio
ter alguns desejos mais imediatos. Também nada arriscou. Foi vivendo a vida dia
a dia sempre à espera que fosse o último. Quando chegou aos noventa anos e
olhou para trás percebeu que se tinha equivocado. Que por causa daquela ideia
pouco mais se tinha permitido do que existir. E como isso tinha sido um
tremendo desperdício.
A sorte de se ter apercebido que tinha desperdiçado a vida, ou a outra maneira de des(viver).
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