David Teles Ferreira

aqui vou publicando o que vou escrevendo

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Lastro



Todos carregamos connosco imenso lastro que vamos armazenando ao longo dos anos. Vamos guardando em nós pensamentos, sonhos e memórias. Bem como arrependimentos, desgostos e saudades. Algum conhecimento, também. E isso é bom. Não é por acaso que os barcos usam lastro. É ele que lhes dá estabilidade. E o nosso lastro, na medida certa, tem o mesmo efeito estabilizador em nós. Equilibra-nos. Mas, com o tempo, podemos acumular demasiado. Começa a empatar-nos. Pode até acabar por nos imobilizar. É altura, então de nos livrarmos de algum para podermos continuar. Muitas das coisas que guardamos dentro de nós até são bonitas, mas são como aquelas conchas que não resistimos a apanhar na praia e ficam a pesar-nos na mochila e a apanhar pó dentro de um saco num canto da despensa. Nunca mais usufruímos delas e até acabam por nos estorvar. Outras são como aquela prenda muito feia que recebemos de alguém e que, mesmo detestando, não nos atrevemos a recusar ou deitar fora e escondemos na última prateleira do armário. Outras, ainda, são como os cacos da jarra que partimos e acondicionamos dentro de uma gaveta, meio para esconder meio para guardar, com a vaga ideia de poder reconstituir um dia. Porém todas elas pesam e ocupam espaço. As mais negativas, as mágoas e os remorsos, são as mais pesadas e volumosas e devem ser as primeiras a largar. As outras devem ser mais criteriosamente escolhidas. Mas, sem trazermos o lastro na medida certa, não conseguimos navegar bem na nossa vida.

Sem comentários:

Enviar um comentário