Todos carregamos connosco imenso lastro que vamos armazenando
ao longo dos anos. Vamos guardando em nós pensamentos, sonhos e memórias. Bem
como arrependimentos, desgostos e saudades. Algum conhecimento, também. E isso
é bom. Não é por acaso que os barcos usam lastro. É ele que lhes dá estabilidade. E o nosso lastro, na medida certa, tem o
mesmo efeito estabilizador em nós. Equilibra-nos. Mas, com o tempo, podemos
acumular demasiado. Começa a empatar-nos. Pode até acabar por nos imobilizar. É
altura, então de nos livrarmos de algum para podermos continuar. Muitas das coisas
que guardamos dentro de nós até são bonitas, mas são como aquelas conchas que
não resistimos a apanhar na praia e ficam a pesar-nos na mochila e a apanhar pó
dentro de um saco num canto da despensa. Nunca mais usufruímos delas e até
acabam por nos estorvar. Outras são como aquela prenda muito feia que recebemos
de alguém e que, mesmo detestando, não nos atrevemos a recusar ou deitar fora e
escondemos na última prateleira do armário. Outras, ainda, são como os cacos da
jarra que partimos e acondicionamos dentro de uma gaveta, meio para esconder
meio para guardar, com a vaga ideia de poder reconstituir um dia. Porém todas
elas pesam e ocupam espaço. As mais negativas, as mágoas e os remorsos, são as
mais pesadas e volumosas e devem ser as primeiras a largar. As outras devem ser
mais criteriosamente escolhidas. Mas, sem trazermos o lastro na medida certa,
não conseguimos navegar bem na nossa vida.
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