David Teles Ferreira

aqui vou publicando o que vou escrevendo

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Um homem singular



Era um homem sui generis. Magro, de feições riscadas a goiva e a formão, e desengonçado de fala e de figura. Parecia, por isso, um pouco tonto, mas tinha o seu mister que exercia com bons resultados em estabelecimento próprio, o que desmentia de algum modo essa primeira impressão. Era também, apesar de não muito delicado no falar, muito educado no trato. Havia, portanto, no todo, uma algumas peças que pareciam não encaixar, o que o tornava naquele ser singular. Apesar disto, ou talvez precisamente pela mesma razão, participava activamente numa série de actividades sociais e culturais. Uma delas realizava-se numa bem conhecida colectividade da cidade, onde num determinada ocasião se encontrava. Não era ainda época de telemóveis, pelo que as comunicações urgentes se faziam para os telefones fixos, que o eram de facto, pois que estavam efectivamente presos ao fio que os ligavam à rede. Por isso, nesse dia em particular, estavam os corpos gerentes da associação reunidos, uns seis ou sete elementos, quando o telefone tocou na sala da direcção. Era alguém que solicitava falar com ele, pelo que o foram chamar. Ao chegar ao aposento, com o seu ar característico e a sua proverbial educação, cumprimentou cada pessoa calmamente com um aperto de mão antes de atender a chamada. A conversa foi curta e os presentes apenas ouviram: Estou?! Sim?! Não pode ser! Vou já para aí. Desligou. Despediu-se novamente de todos, um por um, com outro aperto de mão. E rematou, em jeito de conclusão: Desculpem mas tenho de me ir embora, a minha casa está a arder.

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