Era um homem sui generis. Magro, de feições
riscadas a goiva e a formão, e desengonçado de fala e de figura. Parecia, por
isso, um pouco tonto, mas tinha o seu mister que exercia com bons resultados em
estabelecimento próprio, o que desmentia de algum modo essa primeira impressão.
Era também, apesar de não muito delicado no falar, muito educado no trato.
Havia, portanto, no todo, uma algumas peças que pareciam não encaixar, o que o
tornava naquele ser singular. Apesar disto, ou talvez precisamente pela mesma
razão, participava activamente numa série de actividades sociais e culturais.
Uma delas realizava-se numa bem conhecida colectividade da cidade, onde num
determinada ocasião se encontrava. Não era ainda época de telemóveis, pelo que
as comunicações urgentes se faziam para os telefones fixos, que o eram de
facto, pois que estavam efectivamente presos ao fio que os ligavam à rede. Por
isso, nesse dia em particular, estavam os corpos gerentes da associação reunidos,
uns seis ou sete elementos, quando o telefone tocou na sala da direcção. Era
alguém que solicitava falar com ele, pelo que o foram chamar. Ao chegar ao
aposento, com o seu ar característico e a sua proverbial educação, cumprimentou
cada pessoa calmamente com um aperto de mão antes de atender a chamada. A
conversa foi curta e os presentes apenas ouviram: Estou?! Sim?! Não pode ser!
Vou já para aí. Desligou. Despediu-se novamente de todos, um por um, com outro
aperto de mão. E rematou, em jeito de conclusão: Desculpem mas tenho de me ir
embora, a minha casa está a arder.
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